Desemprego afeta saúde mental de trabalhadores brasileiros
- Letícia Maria, Giulia Marini
- 25 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de fev. de 2021
Dados do SPC Brasil mostram crescimento de transtornos psicológicos e físicos pela falta de emprego

Desemprego no Brasil volta a crescer no primeiro trimestre de 2018 - Foto: Sergio Neto/RRO
Uma pesquisa publicada em fevereiro pela empresa SPC Brasil vinculada à CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) aponta índices que ilustram o impacto na saúde de pessoas maiores de 18 anos, quando estão em busca de lugar no mercado de trabalho.
O resultado do diagnóstico mostra que cerca de sete em cada dez dos brasileiros sofrem com ansiedade pela falta de ocupação e 67% têm insegurança em conseguir um novo emprego. Ainda mais para a Marcela Bertucelli, 27, de São Bernardo, que está desempregada há dois meses. “Eu fico preocupada e ansiosa querendo encontrar logo o emprego”, conta.
No público feminino foi relatado o aumento no nível de depressão e desânimo. Enquanto são mais de 60% de afetados no geral, as mulheres de 35 a 49 anos apresentaram acréscimo de 7% em relação ao ano passado. A psicóloga e psicanalista Telma Duarte explica que a situação é um fato histórico. Segundo ela, esse público está o tempo todo tentando conquistar muitas coisas. “A mulher é mãe, é trabalhadora, é a dona do negócio. Ela vai dirigindo várias coisas e o corpo vai ficando doente”.
Outros exemplos envolvem a saúde física, que também é afetada. Entre os sintomas, alterações no sono (54%) e mudanças no apetite (47%) são os mais comuns. O estudante de engenharia Vinícius Roque, 21, morador do Rudge Ramos, está à procura de emprego e a ansiedade atrelada com a expectativa em receber respostas para uma vaga, faz com que ele não consiga dormir direito. “Eu acordo desesperado achando que é e-mail de empresa respondendo sobre o currículo que eu enviei”, e acrescenta: “às vezes eu fico até tarde procurando vagas em sites, mas eu tento me manter o mais motivado possível”.
Assim como Vinícius, há quem esteja esperançoso em voltar a trabalhar. Prisciane Santos, 19, ilustra isso, já que mesmo desempregada se considera otimista. “Sinceramente, eu estou tranquila porque eu sei que vou arrumar outro emprego”. Para quem está desestimulado, a psicóloga propõe praticar o hábito da leitura como opção de distração e, se possível, procurar ajuda profissional.
Aumento do desemprego
O desemprego no Brasil voltou a crescer no primeiro trimestre de 2018. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) feita em abril, a taxa de desempregados cresceu de 11,8% para 13,1% entre outubro de 2017 até março deste ano. De acordo com o IBGE, uma das causas da falta de emprego é a diminuição dos postos de trabalho.
Este problema tem afetado a vida de muitos moradores do bairro Rudge Ramos em São Bernardo. É o caso de Marina Posso, 23, estudante de administração que está desempregada há sete meses. Na empresa de robótica em que trabalhava, um dos requisitos era o curso de engenharia, o que causou sua demissão. Para ela, a maior dificuldade em achar um emprego são as exigências. “O que eles pedem mais, que pra mim é uma dificuldade, é o Excel e alguns sistemas. Eu utilizo o básico, mas às vezes eles pedem avançado”. Marina conta que por mais que ela se esforce com os programas, ainda não é o suficiente.
Já Antônio Fernandes Santana, 56, foi gerente administrativo bancário durante 35 anos e há três anos foi demitido. Depois disso, Antônio ficou seis meses procurando vagas, entretanto as dificuldades financeiras e de empregabilidade fizeram com que ele se aposentasse. “Há dez anos terminei a pós-graduação. Isso não me dá nenhuma vantagem, não me dá condições de eu competir com um jovem de 20, 30 anos que está entrando no mercado de trabalho e fala dois, três idiomas”, afirma Antônio que não desistiu de procurar.
O professor de economia da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Paulo Antônio, explica que um dos motivos do aumento do desemprego é a instabilidade política do país. E, para esse ano, Paulo Antônio conta com grandes expectativas por ser ano de eleições, mas explica que é tudo economicamente incerto. “A gente vem de dois anos trágicos de recessão econômica. Esse ano a expectativa de crescimento é de 2,5%, mas tem uma expectativa maior para que ano que vem, ao passar dessa fase de turbulência de eleições, melhore”.
Publicado inicialmente no Rudge Ramos Online
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